A ilusão da Consciência Limpa .
Certamente você deve ter visto alguém afirmar assim: “Se a
minha consciência não me condena, logo não estarei reprovado por Deus.” Usada
por muitas pessoas e em especial alguns cristãos, geralmente essa afirmação é
proveniente do texto de 1ª Joao 3:21:” Amados,
se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus;” Aqui na interpretação popular o
coração é a “consciência limpa”. Sócrates ( 470 a.C) definiu a felicidade interior em três aspectos : Coração pacificado , Caráter Reto e Consciência tranquila.
Desta forma, a consciência
torna-se um dispositivo relativo e individual. Algo não verificável por
terceiros ou um observador, mas apenas pelo próprio indivíduo. Essa arte de
julgar a si mesmo se constitui num jogo mental de mentir pra si mesmo, ao ponto
de transformar uma mentira interior numa verdade pública. Nada mais que um
braço do relativismo moderno.
Gosto das palavras de
Johannes G. Vos:
“A consciência humana
não tem a capacidade de dizer a ninguém o que deve crer ou viver; não tem como
dizer o que é certo ou errado, apenas pode dizer se alguém está agindo ou não,
conforme aquilo que acredita ser o certo. A consciência só é capaz de dizer que
a conduta de alguém está de acordo com as suas crenças; não pode lhe dizer se
as suas crenças são verdadeiras ou não. É por isso que não se pode
considerar a consciência como regra de fé e de vida.” Comentário da pergunta três
do Catecismo Maior de Westminster.
Obviamente se um canibal acredita ser correto comer carne
humana, a sua consciência não o condenará. Se alguém acredita que de algum modo
é errado consultar um médico e tomar remédios, sua consciência o reprovará. Se
de alguma forma, entender que comer certos alimentos como presunto ou frutos do
mar é impuro, sua consciência irá reprova-lo em todas as instâncias mentais,
ainda que sua crença seja questionada por uma simples pergunta. Isso faz
lembrar de Elizabeth Loftus da Universidade da Califórnia , americana que após
vários experimentos cognitivos formulou a seguinte teoria: “Algo em que acreditamos piamente não é
necessariamente verdade”. Estou de
consciência limpa e acredito nisso, mesmo que os fatos sejam absurdamente
contrários. Mesmo que a maioria das
pessoas ao meu redor grite contra minha loucura. A minha consciência não me condena. Quem há de
lutar nesse campo tão relativo? Isso tem
comprometido muitas áreas na sociedade. Para contrastar , muitos esquecem do texto Bíblico famoso: " Enganoso é o coração , mais do que todas as coisas , e perverso. quem o poderá conhecer ?" Jeremias 17:9
A necessidade de se estabelecer uma regra de fé e prática é
necessária em todas as áreas da vida. Até a escolha de uma vida desregrada
implica em viver numa regra de crença e prática. Ainda que a escolha não seja
crer; sua fé será negar a fé alheia, na fé que no futuro, ter fé seja algo irrelevante
para a existência da humanidade. Muitos se revoltam com a afirmação de que a Bíblia
é o único guia de fé e prática por achar reducionista essa afirmação. Mas não
entende ou se faz de tolo ao não perceber que todos nós de alguma forma temos
os nossos manuais. Para o liberal a autoridade das escrituras (somente a Bíblia)
é limitada à minha condição como ouvinte. O foco não é o que a bíblia diz, mas
sim o que meu contexto precisa ouvir dela. O foco não é a intenção de quem
escreveu a ser analisado, mas a minha condição como leitor. Eu afirmo que Paulo
era machista e sexista, mas esqueço que para o seu tempo submeter o corpo do
homem ao senhorio da mulher era revolucionário: “Da mesma forma, o marido não tem autoridade sobre o seu
próprio corpo, mas sim a mulher “1 Cor 7:4 . Mas eu como um bom liberal sou antes
de tudo desonesto com a própria escritura por querer que a mesma seja um
elemento purgador da minha própria história. Eu afirmo que o evangelho é especificamente
para os pobres, gritando altivamente que a lei e os profetas disseram isso. Mas eu ainda continuo na desonestidade
esquecendo que o maior profeta que esteve em Israel denunciou não a injustiça
social, mas a imoralidade de Herodes Antipas ao tomar para si a esposa do
próprio irmão. O maior dentre os nascidos de mulher( Lc 7:28); profeta do Messias; O segundo Elias; aquele que endireitou o caminho para Jesus
Cristo iniciar o Seu ministério ( Lc
7:27); morre por causa de uma denúncia não social, mas moral (Mc 6:16-18 ). E
eu continuo com a minha consciência limpa porque sei disso, mas digo que é
apenas um mero detalhe e quem lá vai saber se esse texto não foi adulterado?
A “consciência limpa” entra neste jogo para não necessitarmos
de algo externo. É muito mais fácil aprovar algo interior do que algo produzido
de fora. O que vem de “fora” não é autêntico não brilha, não exalta. Só como
exemplo, com o fim da 2ª Guerra Mundial, o Japão viu crescer em seu território
filosofias religiosas que exaltavam o caráter humano para substituir a figura do
imperador que até antes da Segunda Guerra, era tido como um ser divino. Na
falta de um manual de regra de fé e prática para nortear suas crenças
transferiram para o próprio homem através do Xintoísmo e o animismo. As religiões orientais são humanistas porque
sua expressão de fé é baseada na experiência humana e suas sensações. Trazendo para o cristianismo, observe que as denominações
em que a experiência interna do indivíduo é reverenciada, o relativismo é muito
grande e as interpretações de textos bíblicos pra lá de alegóricas. A moda hoje é o “evangelho da consciência
livre” que traz como resultado pastores e líderes que beiram a loucura com
decisões as mais bestiais possíveis com um leve verniz de espiritualidade e de
guerra santa contra os que se opõem. Você que é líder da sua denominação, nunca,
absolutamente nunca, durma com a consciência leve. No dia em que a sua
consciência não o responsabilizar, é sinal que tudo, absolutamente tudo, estará
perdido.
E agora para concluir vou deixar todo mundo com a consciência
leve como uma pluma. Deixarei um breve
relato de algumas conclusões da própria consciência; Daquele teólogo calvinista
E missionário: Jonathan
Edwards. Segue:
“
Frequentemente eu tenho tido
percepções muito profundas da minha própria pecaminosidade e minha vileza, e
muitas vezes isto me faz chorar amargamente; algumas vezes isto me ocorre com
tanta intensidade que eu preciso fazer força para me calar. Eu tenho sentido a
minha iniquidade e a maldade do meu coração de forma mais alarmante do que
sentia antes da minha conversão. A minha iniquidade, assim como eu estou em mim
mesmo , tem se tornado inexplicável, engolindo todo pensamento e imaginação. Os
meus pecados se amontoam diante de mim e assim infinitamente, o finito se
multiplicando pelo o infinito, eu não consigo expressar de outra maneira o que
os meus pecados tem representado para mim. Quando olho para o meu coração e
vejo a minha iniquidade, ela se parece com um abismo infinitamente mais
profundo que o inferno. Mesmo assim eu sinto que a minha convicção de pecado é
extremamente pequena e vaga; é suficiente para me pasmar por eu não estar tão
consciente do meu pecado. Eu tenho desejado avidamente um coração contrito para
me prostrar humildemente diante de Deus”.
Luiz g filho
23\09\2015
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